sábado, 23 de outubro de 2010

O Caminho da Morte - pt. 1

Certo dia, quando a Morte passava pelo caminho encontrou uma menina. E até mesmo a Morte sentiu pena da pobre menina desolada, com a face desnorteada e as mãos trêmidas, gélidas em seu peito, batendo enraivecido. O que pode ter ocorrido com a pobre menina baratinada?

Então a Morte caminha lentamente, movida pela sua piedade feminina, quase maternal. Realmente a menina estava dantescamente infernal para penalizar até a Morte.

-Menina, diz-me o que de tão repugnante te aconteceu? Que enfermidade, peste ou fratricida tanto mal te causou?

-Até eu mesma não sei ao certo. Há muito já não distingo realidade do mundo paralelo em que vivo. Apenas sei que me falta tudo, apesar de ter ainda o ar para respirar...

-Mas o que tão vital te falta que te deixastes tão desolada?

-Dei de bom grado meu coração, meu júbilo, o mais puro, e por fim foi arrancado do meu peito pelo mais inesperado, que fora malevolente, meu amor.

-Moça, moça, moça. Não tente enganar a Morte. Muitos tentam, mas sou sempre esperada. Como pode uma menina viver sem coração?

-Como poderia existir tal proeza de dividir meu coração com alguém?

-Bem, se é verdade que no seu peito nada bate, terei eu que colocar razão nas coisas e levá-la comigo. Não posso deixar vivo aquele que em seu peito não há sangue vivo.

-Certamente, senhora Morte, mas seu papel já foi cumprido, meu amor usurpou seu ofício e fizera de mim pobre menina morta sem coração!

-Pobre menina desgraçada pelo seu altruísmo! Confesso que iria findar seu sofrimento, realmente você está na minha lista. Mas se é mesmo verdade que não tem coração, não sofres realmente, nem vive para eu ser tua carrasco. Serei piedosa para com tamanha aberração: no vazio do seu peito colocarei uma parte da minha essência, e você será parte de mim. Eu transformarei a falta do seu coração em Impressibilidade,
você será impressentida mas sempre esperada. Será minha vingança contra o infame ser que ousou desfrutar do meu singular papel, trazer a morte e tirar a vida. Vai pobre menina, tenha como missão reaver seu coração e o coloque em minhas mãos, se me encontrares em alma piedosa novamente, o colocarei em seu peito e livre estará... Mas se acaso falhares, levarei o que resta de sua alma efêmera e colocarei fim em toda essa insanidade.

Assim partiu a pobre garota, carregando consigo a Maldição.


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